terça-feira, 1 de abril de 2014

Caminhando pelos ermos: um conto de um ranger louco...


A porta abre, abruptamente. As pessoas que estão dentro da taverna se voltam para entrada.  Um vento frio e uivante assopra pela porta, dela passa Onias.
Sem muita cerimonia ele adentra o recinto e fecha a pesada porta de madeira. Ignorando a presença do “intruso”, as pessoas voltam as suas vidas ordinárias, bebendo, contando causos, ouvindo a péssima música do bardo que insiste em tocar alguma coisa em troca de algumas moedas de cobre.
Onias está pálido, cansado, mas longe de ser por conta do frio. Ele se dirige ao taverneiro, Abatoz, um velho companheiro de aventuras.
- Que isso homem? Está frio la fora, mas já passamos por pedaços mais gelados. O que sucede, parece que viu um fantasma... – Abatoz diz olhando para o amigo, prostado sobre o balcão.
- Um fantasma? Talvez, seja como for ainda não acredito em tudo que me aconteceu nos últimos 3 dias. Me ve um pouco de cerveja e um rosbife, bem preparado. Há dias não como igual a um homem... – Onias se ajeita na cadeira, tateia pela roupa procurando seu cachimbo. Ele o encontra, separa um pouco de fumo e prepara para acender o cachimbo.
- Ora pois, diga então o que se sucedeu. Um ranger como você, acostumando a caçar pela tundra desse jeito. O que houve? Teve problemas?
Onias respira fundo, acende seu cachimbo. Em sua feição da para notar que há dias ele não fumava nada.
Quer saber o que me aconteceu? Muito bem, eu vou lhe dizer. Talvez eu contando essa historia eu consiga acreditar no que meus olhos viram...

- Ah mais ou menos uma semana, ou duas, eu venho caçando pela tundra. Você sabe, eu sempre troco mercadoria com os elfos antes de gelar tudo por essas bandas.  Ai me recolho e espero o frio passar.
- Pois bem, estava andando por ai quando detectei rastros em várias direções. Rastreei e consegui identificar alguns orcs pela região. Não podia arriscar um confronto sozinho, eram muitos, 5 ou 6 mais ou menos, então decidi contornar e segui r em frente. Andando um pouco mais adiante, um ou dois dias de caminhada e encontrei esse grupo de orc, mortos. Estavam todos dilacerados, cortados por uma arma pesada, imagino que uma espada muito grande ou um machado. Estavam sem armas, e do jeito que caíram em batalha ficaram. Mas... vi algo que me chamou a atenção, dois rastros. Um de uma pessoa grande, forte e pesada, possivelmente em orc e outro... de uma criança!!! – Onias passa a mão na testa, enxuga o suor. Está visivelmente alterado enquanto conta a historia. Ao seu lado, um gordo que bebia cerveja esta parado, ouvindo a sua história.
- Então, eu vi aquele rastro estranho e, movido pela minha curiosidade eu decidi segui-los. Estavam em um ritmo acelerado, eram cautelosos. Mais a noite, no raiar daquele dia o vento muito, era arriscado continuar na trilha então decidi contornar. Passei a noite no oco de uma arvore. Acordei de madrugada e sai, para tentar seguir a trilha e apertar o passo, ver se eu alcançava a dupla. Cheguei no acampamento noturno deles pela manhã. Estava frio, com certeza eles comeram e dormiram ai. Vi onde levantaram uma cabaninha, provavelmente para criança, e onde o orc deitou-se. Contra um arvore, vi no chão um buraco provavelmente onde ele apoiou a ponta do seu machado. Bom, apertei o passo e ao meio dia, consegui avista-los. Permaneci imóvel, e em silencio, e ouvi... – Chega ao balcão o pedido de Onias, seu rosbife muito bem preparado e uma caneca de cerveja. Mais do que depressa ele abandona a fala e começa a comer, com uma incrível gula.
- O que você ouviu homem de Deus? – Diz Abatoz com um tom aflito em sua voz. Ele sabia que era diversão garantida, sempre, os relatos de seu amigo ranger.
- Então, eu ouvi risadas. Era uma voz esganiçada, fina, e quando eu olhei na estrada estavam um orc, machado grande nas costas, caminhando e ao seu lado o que inicialmente eu pensei que fosse um garoto. Mas se aproximando um pouco eu vi, era uma criatura que eu só havia visto uma vez na vida... um halfling! Ele falava alguma coisa para o grandão enquanto ria, e o orc apenas se ocupava de continuar seu caminho.  Eu estava ali, olhando minhas “presas” quando eu me tornei a caça. Estava distraído e não percebi quando fui cercado por um bando errante. Me pareciam ser goblins, confesso, não vi direito só senti a ponta da lança nas costas. Me virei e começou a luta. Os covardes me atacaram sem piedade, eu estava distraído. Até que consegui reagir tomei uma estocada na barriga. – Onias levanta a camisa e mostra o local da ferida, agora cicatrizado – Tentei levantar e reagi, consegui acertar o filho da puta que estava na minha frente, o de trás tentou me dar uma espadada. Rolei a frente e sai do flanco dos dois, agora estavam na minha frente. Três goblins e um maior, um orc. Eu estava enrascado. Já me preparava para a morte certa, quatro contra um era covardia e eu estava ferido para correr, quando ouvi um barulho infernal vindo atrás dos meus atacantes. Ele era enorme... e gritava – Nesse momento Onias bebe um pouco da sua cerveja, respira fundo e continua o relato:
- O orc era descomunal, em um golpe ele derruba o seu semelhante que estava de costas para ele, no barulho os menores se viram, eu aproveito e acerto um deles. Os outros dois se preparam, em dois golpes rápidos eles caem, o da direita cai primeiro, o segundo cai em seguida. O que eu acertei antes se sente perdido e eu finalizo ele, com um golpe rápido e certeiro nas costas. O enorme orc se vira para mim, eu espero o pior. Vejo seus olhos, que estão vermelhos, uma cara de raiva e fúria que so de olhar para ele eu já me sentia pequeno, e inferior. Estava ali, me despedindo do mundo quando ele abaixa o machado, olha os covardes caídos no chão e estende a mão para mim...
- Eu estava ali, caído, machucado, e quem me salvou deveria me matar, eu precisava ser prudente. Estava assustado, quando ele me disse:
- Não tenha medo humano! Se eu o quisesse morto, o teria feito  dois dias atrás, quando percebi que nos seguia. Pelo seu jeito de vestir, imagino que esteja acostumado a andar por essas bandas.  – Diz o enorme orc.
- É esse o carinha que nos seguia Othan? Hahahahaha pelo menos eles serviu de isca para os nossos coleguinhas goblinoides aqui – Diz o halfling saindo detrás das moitas.
- Permita-me que eu me apresente. Meu nome e Willui. Não é Wilbor, William nem Will é Willui. Eu e meu amigo grandão aqui estamos procurando um lugar para passar o inverno. Como você sabe meu amigo aqui não é exatamente um exemplo de simpatia e com certeza não poderemos ficar na taverna do pônei cantante, ou seria pônei deitante? Bom, seja como for, acho que você precisa de uns pontinhos nessa barriga hahahaha .
- Eu... eu estava indo para cidade. Não esperava encontrar gente aqui ainda por essas matas. Achei um pequeno grupo de orcs e depois eles mortos. E a primeira vez que vejo um orc andando com um halfing. Pensava que vocês eram inimigos naturais...
- Meu amigo, não se engane pelas aparências. Eu e o grandão aqui, somos melhores amigos da face dessas terras. Não é grandão?  - Nisso, o orc se virou para o pequeno e disse:
- Vamos logo, precisamos apertar o passo. Quero chegar logo aos pés da montanha.

Amigos, o pequeno mexeu na minha ferida, colocou uma bandagem em cima e balbuciou algumas palavras, a ferida se fechou. Era arriscado permanecer ali e ante a insistência do grandão, decidi acompanha-los.
Descemos a grande trila, a todo momento Willui ficava cantarolando, contando causos, conversando. Eu, sem graça, ficava calado. Othan, o Orc, ficou calado o tempo todo, quando abria a boca era para indicar por onde deveríamos ir. Antes do anoitecer eu resolvi arriscar e perguntei:
                - Sei que é estranho eu não ter perguntado antes mas, o que um orc e um halfling fazem andando juntos? Eu pensava que o povo de vocês eram inimigos! – eu disse, temendo uma resposta. Eis que Othan se vira para mim e diz:
                - Há muito o que você não sabe sobre o meu povo. A sua honra e o seu orgulho os deixo a muito tempo atrás. Eu decido que o meu dever para com eles acabou quando meus filhos foram mortos. – Ante isso não havia muito o que eu dizer. Willui disse:
                - Nem todo orc bom é orc morto. Othan e eu temo s um pacto de não agressão mutuo. Hahahaha. A muito tempo atrás, um orc guerreiro subjugado estava condenado a morte. Ao seu lado, um prisioneiro halfling que provavelmente serviria de jantar a noite. Esse halfling propõe: “Podemos morrer aqui hoje. Mas podemos escolher como vamos morrer, vamos morrer mais tarde, ou morreremos tentando sair daqui? O que me diz Orc?  O orc responde:  “Eu odeio halflings, mas odeio orcs ainda mais...” E fim da história!!! Aqui estamos nós. Eu ajudei Othan a fugir da sua cela, ele abriu caminho pelos guardas, nos fugimos dos orcs como dois condenados e desde então estamos por ai, por essas bandas. A dois verões, não é mesmo Othan?  - O orc de nada respondeu, apenas balançou a cabeça.
                Amigos, eu devo lhes dizer, os dois faziam uma boa dupla. Claramente Othan sabia andar por aquelas bandas e Willui nos distrai caminhando pelos ermos. Andamos mais ou menos uma semana, até que chegamos nas redondezas da cidade. Othan me deixou na trilha, são e salvo. Willui compartilhou comigo sua comida. Dei para os dois 3 moedas de ouro, 10 balas de funda. Era tudo que eu tinha. Então, caminhei mais uma tarde e cheguei aqui na taverna, onde lhes conto isso.
                - BOBAGEM!!! TOLICES DE UM RANGER LOUCO! – Brada um dos ouvintes, agora muitos, os quais Onias nem sequer havia percebido que estavam prestando atenção da sua historia.
                Onias se levanta, mostra a ferida na frente e nas costas, tratadas com a cura do Halfling, e diz:
                - Se duvida da minha história, ande por ai. Quem sabe algum dia não tope com Othan e Willui. E reze, muito, para todos os deuses, pra não ter encontrado eles e resolver atacar Othan... o seu machado é muito grande!




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