sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Os Caçadores!

                Todos aqueles que empunham as armas de Caçador sentiram a perturbação. Alguma coisa aconteceu, algo grande que afetou a todos. Chon olha para seu martelo, companheiro de inúmeras batalhas sabe que algo de muito errado está acontecendo.
                Suas suspeitas têm fundamento quando um portal é aberto em sua sala.
                - Você sentiu isso também? – Diz John Redcliff.
                - Sim! Alguma coisa muito séria está acontecendo e algo me diz que logo vamos saber o que é. – Chon aponta para o outro lado da sala, de onde um portal é aberto. Por ele passa Skull, empunhando sua Asha.
                - É Arimatheia! Ele caiu! – Diz Skull ofegante.
                - Como assim ele caiu? É impossível isso! Arimatheia é o mais forte e antigo de nós, ele não pode ter caído. Se cair, a balança universal vai pender para o lado errado.- Diz Redcliff.
                - Só tem um jeito de sabermos, vamos para dimensão central! – Afirma Chon conjurando um portal maior para a dimensão central.
                Aos poucos caçadores de todos os lugares do mundo vão surgindo. Todos aqueles que dedicam suas vidas a manter o equilíbrio em um mundo sombrio cheio de crias sobrenaturais estavam ali. Olhando uns para os outros, incrédulos. Alguém tinha que tomar a palavra, mas quem entre eles? Não havia líder entre os caçadores, mas se houvesse algum ele Arimatheia seria ele. O Caçador de caçadores, aquele que anda por esse mundo a incontáveis séculos.
Alguns diziam que ele havia caminhado na terra antes de Cristo, poucos duvidavam dessa história. Sua feição fixa e dura, a sabedoria em suas ações e palavras denunciavam isso.
                - Arimatheia caiu! – Diz Skull caminhando para o centro do enorme salão!
                - Eu estava lá! Recebemos de um oráculo a incumbência de encontrar Joseph Marx. Arimatheia, pela primeira vez, precisou de ajuda. Ele me encontrou aqui e fomos para o Monte Jorhdal. – Diz Skull com suas feições duras.
                - Quem garante que está dizendo a verdade Skull? Todos aqui sabemos que você... não bate bem da cabeça. – Diz uma voz ao fundo, pessoas por todos os lados riem.
                - Silencio! Respeite aqueles que tem um rank superior, eles fizeram por onde merecer. E Skull não teria motivo nenhum para mentir! – Diz Chon em alto e bom som.
                - E não está mentindo! Se estivesse eu saberia – Diz Acasia, uma experiente caçadora de magos.
                - Estávamos no monte, a caçada era feroz. Todos sabem o quanto Joseph é persistente, ou melhor era. Depois de subjugarmos Joseph, Arimatheia estava fazendo a punição dele quando fomos atacados. – Diz Skull para a multidão.
                - Não tivemos chance, estávamos esgotados da batalha, o numero deles era maior. Joseph foi morto por um demônio desgarrado, eles surgiam de todos os lados. Lutamos como podemos, a derrota era inevitável. – Dizia Skull quando foi abruptamente interrompido.
                - E por que está só você aqui? O que aconteceu com Arimatheia? – Perguntou Hendell, um caçador de vampiros impaciente.
                - Você já iria saber se não tivesse me interrompido. – Interpela Skull.
                - A derrota era certa. Eu, como caçador de demônios sabia que era ali meu fim. Estávamos quase tombando em combate quando surgiu, atrás da horda o líder do ataque. – Diz Skull.
                - Era o NADA. Eu fui burro, no meio do caos não consegui identificar seus asseclas, os demônios do inferno gelado. Nada surgiu e parou o ataque. Disse que, quando fez o acordo com Joseph jamais esperava que seu prêmio seria a alma de Arimatheia. – diz Skull em lágrimas.
                - Entendam, ele era o demônio chefe do sexto círculo do inferno gelado. Nem todos os caçadores de demônios juntos dariam conta dele. Estávamos la, com uma horda inteira prestes a morrer, quando ele fez... quando Arimatheia – Skull iria tombar de joelhos se Chon não o tivesse aparado...
                - Calma irmão, já passou! – Diz Chon – O que aconteceu em seguida?
                - Arimatheia olhou para mim e sorriu. Ele me disse: “Hoje é um bom dia para morrer. Mas hoje é meu dia, e não o seu”. – Skull conclui:
                - Arimatheia tirou seu colar do pescoço, pressionou sobre meu peito e eu fui transportado direto para minha dimensão. Lá eu fui imediatamente curado de minhas feridas e busquei pelo primeiro amigo que encontrei... eu fui procurar Chon. Arimatheia tombou e em seu último sacrifício ele me salvou! – Diz Skull.
                Acasia se aproxima de Skull, coloca uma mão sobre seu ombro. Ela olha para ele por um tempo, abaixa a cabeça um pouco. Aqueles que estão próximos a veem sorrir, ela se vira para Skull e diz:
                - Acalma seu coração companheiro, Arimatheia está vivo! – Ela diz se virando para todos!
                - Quando ele te teleportou do monte foi capturado pelos demônios de Nada. Ele foi levado para o 6º círculo infernal. Arimatheia está ferido, mas está vivo! – Diz Acasia estendendo suas mãos a frente do corpo. Em suas mãos aparece uma bola de cristal, límpida e completamente polida e transparente. Essa bola projeta acima uma imagem de Arimatheia caído em um calabouço, mãos acorrentadas.
                Todos observam admirados essa imagem quando ela é interrompida bruscamente. Nada percebeu a intrusão mágica em seus domínios. Ele sublima os efeitos da arma de Acasia.
                O que vamos fazer? Temos que tirar ele de lá. Essas frases se multiplicam pelo salão, alguns incrédulos, outros em tom confiante. Eles precisam tirar Arimatheia de lá, mas não há consenso. Enquanto todos estão discutindo, um dos caçadores fita o vazio. Poucos sabem, na verdade apenas os mais próximos sabem sua origem. Ele é o filho de NADA, John Redcliff...

Esse conto eu vou dividir em duas partes, é uma singela homenagem ao meu amigo Pedro, que conheço a quase 20 anos. O sistema que ele criou foi meu primeiro contato com o RPG. Lembro que ele apareceu em casa para que eu fizesse a sua ficha. Levei uma tarde toda fazendo e formatando essa ficha (hoje eu levaria uma hora com o excel hahaha).
Bons tempos, Chon foi meu primeiro personagem de RPG. Eu lembro que eu fiz o meu personagem e o do meu irmão, o SKULL. Jhon Redcliff era o personagem do Glênio. Jogamos um bom tempo esse sistema até passarmos a jogar o LOBISOMEM. Eu cheguei a narrar algumas histórias nele, criei a DIMENSÃO CENTRAL.
No jogo os personagens eram Caçadores, pessoas que eram escolhidas para empunhar armas mágicas poderosas. O mundo era um lugar sombrio no qual haviam várias criaturas poderosas vivendo entre as pessoas. Os caçadores mantinham o equilíbrio destruindo aqueles seres que colocavam em risco essa balança. Havia todo tipo de caçador, de vampiros, magos, lobisomens, demônios e.... caçador de caçadores.
Esses eram os justiceiros, aqueles que puniam os caçadores que saiam de linha. Esse sistema que o Pedro criou mexeu com meu imaginário a tal ponto que eu também quis montar meu próprio cenário. Era um no qual humanos faziam acordos com demônios em troca de poderes, mas essa história fica para outro momento.
Ah, Arimatheia era um NPC do Pedro, ele carregava uma cruz enorme que e era um caçador de caçadores. Todo mundo morria de medo do Arimatheia.


Em breve a parte 2.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Amizade forçada em sangue!!!

                O velho ancião contempla a cidade vista do alto de sua cobertura, as janelas fechadas. A noite é clara como o dia, lua cheia como nos velhos tempos. Ele observa ao longe as luzes se movimentando como vagalumes, com seus sentidos aguçados quase consegue distinguir as vozes. Envolto em seus pensamentos, imagina o quanto é caótica as noites modernas. Em contraste com seu tempo antigo, em cavalgava as noites pela mata sozinho, sem luzes, sem som, sem nada...  – As noites seriam mais difíceis se eu estivesse sozinho – ele conclui.
                Em tempos remotos, Deimos forjou com sangue e ossos uma amizade, que perdurou até os tempos atuais.
                - Está pensando em dar uma volta hoje? – Diz Hiei saindo das sombras, tirando o velho Deimos dos seus pensamentos.
                - Não. Hoje não estou com vontade. E também estou devidamente saciado – Mostra Deimos exibindo sua taça em com restos de vitae.
                - Devia sair um pouco, já faz tempo que não se transforma em morcegão e sai por ai. O que está acontecendo velho amigo? – Pergunta Hiei, o tom de sua voz denuncia sua preocupação verdadeira.
                - A última vez que sai para voar dei de frente com uma aberração voadora toda iluminada. Quase choquei com ele... foi um terror! – Diz Deimos se voltando para Hiei.
                - E você, não vai sair? Tome cuidado, tem espreitadores por todos os lados. Odeio essa cidade, é barulhenta demais, sinto como se algo muito perigoso andasse por essas ruas a noite.
                - Nada tema meu amigo! Mas é sério, você precisa sair pelo menos desses aposentos. Os empregados já estão... bem... – Diz Hiei com a  hesitação de quem disse algo que não deveria.
                - Já estão o que? O que eles estão falando? – Diz Deimos visivelmente irritado.
                - Ah ta, vou falar. Peguei a copeira conversando com o mordomo, acharam que eu não estava ouvindo. Estão pensando que você... que nós dois somos viados!!! – Diz Hiei em tom firme.
                - Besteira, eu não me transformei em nenhuma noite aqui. Por que haveriam de pensar que eu sou um cervo? Faz tempo que não uso o dom de Prometheus para pegar a forma de um antílope. Ainda mais aqui nesse quarto. Isso nem faz sentido! – Diz Deimos, claramente sem entender o amigo.
                Hiei tenta conter o riso, olha para um lado e para o outro mas chega a um ponto em que não consegue se segurar. Ele ri e gargalha alto, praticamente rola pelo chão enquanto um atônito Deimos olha para ele.
                - Que isso? O que eu disse de errado? – Diz Deimos sem compreender. – O que foi? Por acaso eu fiz alguma coisa errada? Eu tomei uma forma diferente sem perceber? – Quando diz isso a risada de Hiei se intensifica.
                Depois de muito rir da cara de Deimos, Hiei senta-se no sofá e explica para o amigo incrédulo:
                - Deimos eu não sei o que seria de mim sem você para me fazer rir desse jeito. Fazia tempo isso. A última vez que ri assim foi quando você viu uma TV pela primeira vez e achou que era bruxaria, queria colocar fogo. – Diz Hiei ainda rindo muito.
                - Eles pensam que nos dois somos homossexuais Deimos – Diz Hiei tentando segurar o riso.
                - Homossexuais? Não estou familiarizado com esse termo. O que isso quer dizer? – Diz Deimos, verdadeiramente sem entender o significado da palavra, tentando traçar um paralelo entre essa palavra e algo similar em sua língua nativa.
                - Gays... aff. Pensam que somos amantes. Que eu e você bem, que nos dois temos uma relação carnal. Que somos marido e mulher, enfim. – Diz Hiei gesticulando ao máximo.
                - NON SENSE! – Grita Deimos – Isso nem faz sentido!!! Como ousam? Como pode, uma patifaria dessas. Nem nos meus tempos de juventude poderia sequer imaginar algo grotesco assim. Que patifaria! – Deimos joga a taça que estava em sua mão sobre o chão. Sua feição é de fúria para espanto de Hiei. Ele esperava alguma reação do seu amigo mas não fúria.
                - Calma amigo, relaxa. Eles tem motivos para pensar isso. Veja bem, dormimos praticamente no mesmo quarto. Apesar de enorme isso aqui é um quarto. E você ainda tem aquele quartinho trancado a sete chaves. Demos motivos para eles pensarem isso. Mas calma, damos um jeito de contornar isso. Nem é tão grave, nem é tão grave... – Diz Hiei em um tom conciliador.
                - Eu preciso manter lá fechado. É onde guardo a terra da minha velha casa. Preciso dela para me sentir bem. – Explica Deimos já mais calmo.
                - Eu sei meu amigo, eu sei. Mas não se importe com o que os mortais pensam. Que pensem que somos amantes. Deixa isso para lá, temos coisas mais importantes para nos preocupar.
                - Humf. Vamos chamar algumas donzelas da vida para cá. Depois chama a empregada e o mordomo, diga que ouviu tudo e que serão demitidos se nos caluniarem de novo. Meu falecido pai se reviraria na cova, se houvesse uma, caso seu filho fizesse uma aberração dessas. Você sabe, isso incomoda meus velhos ossos. Fui um amante vigoroso na minha juventude, creio ter deixado espalhado minha semente por ai em algum lugar. E pensarem uma “barbárie” dessas de mim! Logo eu, que fui Lorde? Basta! Diga logo, resolva isso – diz Deimos consternado.
                - Acalma-te que eu resolvo isso! – Diz Hiei – E como eu te falei temos problemas mais sérios para enfrentar.
                - Hoje pela noite enquanto caminhava eu topei com alguém muito diferente. Certamente era um dos nossos, mas ele era muito diferente. – Diz Hiei em tom sério e preocupado.
                - Diferente como? Igual aqueles degenerados do Sabá? Os que se dizem Tzimisce? – Pergunta Deimos, enquanto senta-se na poltrona a frente de Hiei.
                - Não! Fisicamente ele era normal, mas era sua aura, sua “presença” que chamou minha atenção. Quase pude ouvir ele conversar comigo, na minha mente. Você sabe, já passamos maus bocados por todo lado. Estar em território Sabá me traz mais tranquilidade, mas mesmo assim ainda precisamos andar olhando pelos ombros. Esse camarada passou por mim, me encarou e sumiu.
                - Teme que ele esteja atrás de você pelo seu Vitae? Acha que ele seria estupido o bastante? – Pergunta Deimos enquanto cruza seus dedos.
                - Não sei, mas é melhor ficarmos espertos! Depois quero sondar nosso território de caça, dar uma espreitada para ver se podemos ficar seguros aqui. Mas já sabe, se as coisas ficarem ruins sairemos de Metropia. Não quero correr riscos, foi muito difícil recuperar seu corpo há 10 anos atrás eu fiz muitos inimigos... – Diz Hiei.
                - E nunca te agradeci apropriadamente amigo! Fique tranquilo, amanhã sairemos para caçar juntos. Creio que tem razão, precisamos sair de vez em quando. Não quero que pensem que sou um “viado”. – Diz Deimos.
                - Hahaha, vamos sim! – Conclui Hiei enquanto se levanta.
                - Mas amanhã, hoje eu preciso terminar meus estudos! Estou quase perdendo totalmente meu sotaque, a América é um lugar fascinante. – Diz Deimos enquanto coloca-se de pé em frente a estante.
                - Há, sabe que não tenho paciência. Vou dar uma anda pelo andar, vou ver o que os empregados estão fazendo qualquer coisa “tenta” me ligar. – Diz Hiei apontando o celular na mesa.
                - Ta bom, mas sabe o que penso dessa bruxaria chamada tecnologia... – Diz Deimos.
                - Eu sei meu amigo eu sei... só não sei o que seria de você sem mim! – Diz Hiei, enquanto pensa: - Não sei o que seria de mim, sem você!


                Continuando a série de contos baseados em histórias e personagens antigos de nossa mesa de jogo, hoje apresento: Lorde Deimos e Hiei.
Quando jogamos Vampire: The dark Ages o Marcelo, irmão do Marco Túlio fez um Salubri. Contrariando toda a natureza do clã ele fez diablerie em um ancião e ficou de 5ª geração. Era algo muito forte para um vampiro mesmo na era medieval. Durante uma sessão de jogos meu vampiro, o Lord Deimos topou com o corpo do Hiei totalmente ferido. Era a morte certa para ele, depois de um encontro desastroso com Lobisomens. Mas, contrariando a todos, até mesmo o Marcelo, meu personagem ajudou o dele. Usando Vicissitude ele moldou o corpo do amigo, deixando ele menor mas inteiro (com braços e pernas no lugar que haviam sido arrancados). Desde então os dois passaram a ser parceiros de aventuras. Sempre imaginei o que poderia ter acontecido com os dois se tivessem chegado em tempos modernos. Gosto de pensar que a amizade ficou cada vez mais forte, afinal de contas se Deimos tivesse “diablerizado” Hiei ele seria muito poderoso. Mas ao invés disso preferiu ter um amigo e um aliado.
                Anos mais tarde eu fiz uma campanha de Storyteller e coloquei um plot para uma futura aventura na qual o corpo de Deimos estava em torpor. A mesa de jogo se desfez, começamos a jogar D&D e nunca cheguei a usar essa história.
Acredito que um dia Deimos tenha se cansado e tenha entrado em torpor voluntário. Hiei tomou conta do amigo mas o perdeu durante um ataque da Camarilla ao seu esconderijo. Depois de muito tentar, enfrentando de Lobisomens a magos poderosos Hiei conseguiu recuperar o corpo e trazer de volta seu velho amigo. Desde então forjaram uma aliança, embora sem participar efetivamente, com o Sabá. Eles possuem um prédio, comercial durante do dia mas com uma grande cobertura onde é o seu esconderijo. Vigiado durante o dia, discreto durante a noite, seus habitantes mais insólitos podem dormir o sono dos justos sem se incomodarem.

Hiei forjou aliança com alguns Shivare, em segredo, para ajudar a recuperar o corpo de Deimos. Tem uma década que permanecem no mesmo lugar, mas sempre preocupados. Ainda mais agora que um caçador mais perigoso ronda a cidade... 

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Passeio no parque

                Os dois caminham pelo parque a noite, uma linda noite com uma grande lua cheia. O parque, apesar de ter bastante arvores é bem iluminado a noite, destino favorito de casais a procura de um passeio tranquilo. É verão, o vento sopra leve, em lufadas de ar que convidativas.
                Mathew está com as mãos suadas, é a primeira vez que consegue convencer Helena a caminhar com ele pelo parque a noite. Ela tem medo, mas fica linda a noite com a luz do luar. Completamente apaixonados um pelo outro, não havia melhor hora e lugar para estarem agora.
                - Você sabia que este parque é mal-assombrado? – Pergunta Mathew com os olhos esbugalhados para Helena.
                - Não existe esse tipo de coisa seu bobão! Mas bem que seria legal se existissem fantaaaasmas. – Diz Helena em tom jocoso.
                - É verdade, minha tia já viu! Tem uma história muito antiga sobre um fantasma do velho Conde que o pessoal costuma ouvir por entre as arvores. Dizem que ele é muito feio e zangado, mas inofensivo. – Diz Mathew com uma certeza tão grande que até ele mesmo parece acreditar nessa história.
                - Se existissem fantasmas a gente saberia. Qualquer um anda com celular na mão hoje em dia, como é que nunca teve foto nem nada? – Diz Helena tentando ser confiante, mas com uma leve entonação que denuncia sua preocupação.
                - Vamos sentar ali no banco! – Diz Mathew apontando para um banco embaixo de um poste meio apagado. – Essa história é verdade. Tudo isso aqui a uns, sei la, duzentos ou trezentos anos era floresta e mato. Naquele tempo, existiam castelos como aquele da família Saint´Erie. Então, essa história é muito antiga mesmo. Dizem que nessa floresta havia um cavaleiro, dono de várias terras ao redor e do castelo. Um dia, em uma noite como essa, um monstro apareceu. Ele dizia ser um Duque, era um bicho grande - feio e estava muito bravo.  – Diz Mathew olhando por sobre os ombros.
                - Você ta me assustando Mathew, para com isso. – Diz Helena abraçando Mathew. Mal ela sabia que era esse o plano desde o início.
                - É verdade bobinha.  No dia que esse monstro apareceu o cavaleiro teve que intervir, ele estava invadindo suas terras. – “ Saia dessas terras, você está invadindo meu território”!! Gritou o Cavaleiro. Mas o monstro continuou a avançar e ele gritou:
                - Essas terras aqui? Essas terras são sujas!! – Diz Mathew rindo: - E o Duque começou a rolar pelo chão e ameaçar o cavaleiro que não teve alternativa a não ser matar o monstro.
                - Desde então em algumas noites ele aparece por essas matas gritando: “Essa terra é suja!” – Diz Mathew imitando o que mais parecia um macaco.
                Os dois se divertem com a história, riem e se beijam. É uma boa noite para estarem juntos.
                - Mas como você sabe dessa história? – Pergunta Helena enquanto afaga os cabelos de Mathew.
                - Ah, essa história é bem antiga. Foi contada por um, por outro até virar uma lenda. Tem gente que jura de pé junto ter visto o “Duque da Terra suja”. Minha tia mesmo não pisa aqui nem se pagarem para ela. Eu só rio dessa história absur... – Mathew interrompe a narrativa quando ouve o que parece ser um barulho de algo vindo pela mata.
                - Você ouviu isso? – Pergunta Helena.
                - Não deve ser nada, deve ser um cachorro ou um gato. – Diz Mathew tentando demonstrar confiança, mas já se levantando do banco com pressa.
                - Vamos embora? Eu senti fome podemos comer pipoca lá na praça – Diz Helena em um tom que demonstra todo seu nervosismo.
                - Vamos sim, vamos meu bem. – Diz Mathew mais do que apressadamente.
                Quando se levantam e caminham para sair os dois ouvem um urro por tras das árvores que arrepiaria o mais valente dos bravos. Ambos olham um para o outro e começam a correr em disparada quando ouvem aquele som que jamais esqueceram em suas vidas:
                - ESTA TERRA AQUI, É SUJA!!!
                Nunca mais em suas vidas Mathew e Helena jamais pisaram naquele parque. Eles contaram para seus amigos, familiares, mas apenas uma pessoa acreditou neles: a tia de Mathew!


Esta é uma série de contos que eu pretendo continuar baseada em histórias que aconteceram a mais ou menos 17 anos atrás em nossas mesas de RPG. 
Jogávamos naquele tempo Vampiro: the dark ages. O narrador era meu amigo Marco Túlio e os protagonistas da cena foram meu amigão Pedro e meu irmão querido Leonardo (vulgo Gnu). A cena foi mais ou menos assim:
Eu estava deitado com a cabeça na mesa aguardando meu turno, estava bem longe da cena com meu personagem. E começou o diálogo entre meu irmão e o Pedro. O Personagem do Gnu enfrentou alguns garous (lobisomens) e estava voltando pela mata quando atravessou as terras do personagem do Pedro. Ambos Tzimisces o personagem do Pedro interpela o Gnu:
                - Quem é você? O que faz invadindo minhas terras? – Pergunta o Pedro. Eis que, o Gnu responde:
                - Que terras o que? Estou invadindo nada não. Essa terra aqui é suja! – Diz o Gnu indignado.
Nesse momento o Marco Tulio intervém:
                - Gnu seu personagem não consegue falar assim não! – Diz o Marco Tulio com uma paciência de Jó.
                - Por que não? – Pergunta Gnu.
                - É que ele está em frenesi Gnu.
                - Ah mas eu dou conta de falar isso sim, é só falar isso nervoso uai! – Diz o Gnu mais indignado ainda.
                - Mas Gnu, além de estar em frenesi você está na forma de ZULU!
Aquilo lá me despertou como nunca. Imediatamente comecei a gesticular e interpretar como se fosse o personagem dele e é desnecessário dizer que a sessão acabou ali.
O Pedro matou o personagem do Gnu e durante muitas vezes ouviam-se na floresta o “Duque da Terra Suja” gritando que a terra era suja!
Para aqueles familiarizados com o rpg vampiro sabem o que é a forma de Zulu. Para aqueles que não conhecem é como se fosse uma forma bestial que o vampiro transforma, geralmente prevendo que vai entrar em combate. Parece muito com aquela forma animal que o Drácula transforma no filme: Drácula de Bram Stroker.
                Pretendo continuar com a série de contos, vamos ver o que vai virar.


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A Mariposa!

Já havia algum tempo que ele não passeava por aquelas ruas, mentalmente pensava consigo: “Trinta, talvez vinte anos? ”.
Já não tinha certeza, em sua mente uma ele ouve uma voz que sussurra:
- Você já esteve aqui? Certeza? – Gentilmente a voz é silenciada em sua mente.
Mais alguns metros à frente, algumas luzes falhando nos postes, ele vê o bar. Um flash em sua mente, a visão do que outrora foi uma taverna suja. Pouco importa, é ali que ele precisa estar. Na porta do bar algumas motos, sugerindo tão sutil quanto um elefante em uma praia, que ali é um bar de motoqueiros. É estou no lugar certo – pensa ele.
Ele adentra a porta e o leão de chácara olha no fundo dos seus olhos, tempo suficiente para percorrer toda sua alma. Mas nada o abala, e o vigia simplesmente volta a fulminar com seu olhar o vazio da noite fria.
O lugar é realmente barulhento, além das pessoas, cada qual querendo falar e aparecer mais do que as outras, tem aquela voz estridente e a guitarra mal afinada. A melodia é vagamente familiar, mas ele pouco se importa. Senta-se no balcão, a mão direita começa a tremer.
- Aquela puta estava drogada... – Ele pensa. – Essa sensação é familiar, odeio isso, como não percebi antes?
Perdido em seus pensamentos, aquela voz lá no fundo de sua alma gargalha... dessa vez ela não é gentilmente reprimida.
Mark entra no bar, ali é um ótimo lugar para procurar uma presa fácil. Rednecks... esses são os mais fáceis de enganar, ainda mais quando a besta urra em seu peito exigindo sangue. Uma rápida olhada e ele vê, perdido olhando em um copo aquele estranho. Roupas escuras, totalmente ignorado pelos presentes. Mas a aura dele, é algo que chama a atenção. Definitivamente, aquele não é um lugar para aquele tipo de pessoa.
Ao se aproximar, Mark vê que o estranho está usando um sobretudo, por baixo uma roupa em tons escuros nada chamativos. Mark senta ao lado do estranho.
- Rancid vats – the darkest souls of rock´n roll… eu reconheceria essa música em qualquer lugar do mundo – Diz Mark ao estranho, que olha diretamente em seus olhos.
- Eu sabia que conhecia de algum lugar essa música, só não lembrava de onde. – Responde Adrian, enquanto tenta focar na conversa e ignorar a voz protestante em sua mente.
- Mark Lacross, prazer meu amigo. E você, qual a sua graça? – Diz Mark estendendo sua mão.
- Adrian! – Responde o agora não estranho. Seu aperto de mão é levemente morno em comparação com a mão de Mark.
- Se fosse em Nova Orleans esses idiotas já teriam virado pó! – Diz Mark apontando para o palco.
 O que se vê é uma empolgante, porém estranha apresentação musical. Nos vocais um homem gordo e baixo totalmente tatuado. Quem presta atenção no seu nariz pensa ver o que parece ser um focinho de porco no lugar do nariz. Ele canta com voz embargada, na mão uma jarra de cerveja, na outra um cigarro. O baterista com os olhos vermelhos, brilhantes e vidrados mantendo uma batida rítmica e consistente. O baixista, pula e rodopia pelo palco mas mantém a música. E a guitarrista, cabelos cobrem seu rosto. Ela realmente é muito rápida...

- Aqui não é Orleans meu amigo. Ainda bem... – Diz Adrian, suas lembranças fluem rápido em sua mente.
- Ainda bem! Mas você não parece ser desse local. A algo de assombroso em sua aura, senti assim que passei pela porta. Você é tão atraente quanto a luz de uma chama para uma mariposa. – Diz Mark, com um sorriso de canto de boca.
- Cuidado, você sabe muito bem o que uma chama faz para uma mariposa descuidada. – Diz Adrian levando o copo a boca. – Você também não parece pertencer a esse lugar. Somos dois estranhos em um lugar caótico...
- Verdade Adrian. Mas Metropia é uma das poucas cidades que um da minha estirpe pode andar sossegado. Malditos declararam caça às bruxas a nós, e eu tenho passado por maus bocados. Pelo menos aqui, me deixam em paz desde que eu seja discreto. E eu sei ser bem discreto...
Adrian observa enquanto Mark faz um truque barato com baralho. A carta parece transformar em uma mariposa em chamas depois volta ao normal. Tudo seria muito fantástico não fosse sua habilidade auspiciosa em ver a verdade por tras da ilusão.
- Lacross... Esse sobrenome me é familiar. Na verdade, posso dizer que já conheci algum Lacross – Diz Adrian. Enquanto tenta buscar em sua memória ele vê aquilo que não lhe pertence.
Ele vê um vampiro sendo queimado em uma fogueira grande, suas mãos aos céus e a lua vermelha como sangue. – Isso não lhe pertence. Isso sou eu! – A voz em sua mente grita, mas ele tem mais força e ela se cala.
- Possivelmente. Em tempos antigos éramos uma família numerosa. Hoje, contam-se nos dedos da mão esquerda os membros da minha família. Os Ravnos são história, quase extintos, culpa da maldita Camarilla. Tinham medo do nosso poder e influência. – Diz Mark visivelmente chateado.
- Bom, seja como for foi um prazer topar com você Mark. Eu vou embora, esse som já incomodou meus ouvidos e quem eu vim procurar não está aqui. – Diz Adrian terminando sua bebida, atira alguns dólares no balcão e sai, sem tanta cerimonia.
- Boa noite meu amigo, eu vou ficar aqui um pouco mais. Nos esbarramos por ai qualquer noite dessas. – Diz Mark se voltando ao palco.
A saída do bar não é excepcional, mas Adrian fica chateado. Ele precisava ver ela essa noite, mas isso poderia ficar para outra ocasião. Tudo seria mais fácil se ele usasse um celular, mas seu anacronismo fala mais alto. Para que andar por aí com um pedaço de vidro no bolso, disponível a qualquer horário? Não, ele é da moda antiga, dos tempos antigos onde se queriam falar com ele, mandavam um pombo.
Perdido em pensamentos aleatórios Adrian percebe quando Mark o segue furtivo nas sombras. Tolo, jovem e ingênuo acha que pegaria alguém da sua estirpe assim? Mark se excita com a caçada e mal percebe que Adrian o leva para um beco sem saída.
- Pode sair das sombras meu amigo. Eu te percebi a quarteirões daqui. – Diz Adrian fitando o escuro.
- Percebi logo que entrei no bar, você não é um mero cainita. Você cheira sangue forte, antigo. Veja... não é nada pessoal, mas eu sempre quis topar um ancião pela noite. É a primeira vez em séculos que eu encontro algum. Achei que só na Camarilla existiam anciões... – diz Mark.
- E o que te faz pensar que eu seja do Sabá? O simples fato de eu andar aqui nessa cidade onde esses trouxas rasgam o “véu”? – Diz Adrian encarando Mark.
- Então é mais corajoso do que eu pensava, um ancião da Camarilla invadindo assim, na cara dura, o território inimigo? – Diz Mark, suas garras apontando visivelmente em suas mãos.
- E quem disse que sou da Camarilla? Você supõe demais. Supôs que eu era do sabá... e agora supôs que eu fosse da Camarilla. Supôs que iria conseguir meu sangue facilmente e novamente a suposição foi sua derrota. –
Em um gesto rápido demais para os olhos de Mark, Adrian se move rapidamente para trás dele. Seus olhos tentam em vão acompanhar o movimento de Adrian enquanto ele o pega por trás e torce o seu pescoço. Não há o que fazer, dessa vez o jovem Lacross foi a presa.
O estalo do pescoço quebrado arrepiaria os cabelos de Mark, se essa ação fosse possível para os de sua estirpe. Imóvel Mark apenas escuta:
- Hum, 10ª geração. Nada mal, achei que de fato seria um neófito por ser tão ingênuo assim. Sabe Mark, provavelmente em alguma vez na sua vida você já ouviu falarem sobre a diablerie. É um ato condenável entre os de nossa espécie é verdade, mas é algo quase irresistível. Tão irristivel para mim quanto a “luz de uma chama para uma mariposa”. Pode me culpar por isso? Os que vieram antes de nós fizeram isso, a base do que somos é esse “canibalismo vampírico”. Mas fique calmo logo tudo vai acabar, essa dor que está sentindo, esse medo e angustia... ah Mark! Devo te agradecer por essa noite. Isso foi inesperado, mas muito bom!
- Eu vou te contar um segredo, antes de terminar com seu sofrimento. E não, não permito que você diga uma palavra sequer, ainda não. Quando eu terminar com você, sua mente vai fazer companhia a outra que está um tanto quanto solitária. Mas não se deixe enganar, ele é muito tinhoso. Veja só a ironia, esse que você provavelmente vai conhecer se chama John Lancaster, ele era muito poderoso. Ele trouxe a morte final para Antoine Lacross, vampiro de 8ª geração.
-  Provavelmente um dos quais pertenceu a sua linhagem. Veja só a quantidade de assunto que vocês terão para colocar em dia. – Diz Adrian enquanto vira o pescoço de Mark e enfia seus dentes em sua jugular. Ele sabe exatamente o que fazer, primeiro vem o vitae, doce e agradável. Depois começa a vir mais, vem as histórias, vem as disciplinas.... Todo o conhecimento e por um momento é como se ele sugasse além do sangue toda a essência do que um dia foi Mark.
Em sua mente, Adrian leve alguns minutos para controlar o turbilhão de pensamentos. Ele fica confuso, mas logo recobra o controle.
Esse jogo está ficando complicado demais Adrian – Ele diz para si mesmo. Enquanto isso, uma voz bem baixa grita em agonia, facilmente repreendida.
- Um dia, esse gosto seu por vitae vampírico será sua ruina Adrian. E eu estarei aqui de testemunha. – Diz uma voz rouca e forte como se estivesse falando diretamente em seus ouvidos.
- Sim, você vai estar ai de testemunha! – Adrian sorri, enquanto limpa seu casaco sujo com as cinzas do que um dia foi um vampiro chamado Mark Lacross!