quinta-feira, 3 de abril de 2014

Rompendo laços familiares: um conto orc.

Todo mundo vai morrer um dia, isso é fato. A questão é: o que fazer até o dia final chegar? Eu escolhi viver minha vida em fúria, mas... Eu direciono minha fúria para aqueles que merecem ela. Minha vida não é fácil. Nunca foi se fosse para ser eu nasceria um elfo... ou um humano. Eu não sou nada disso, eu sou Othan, um orc.
                A vida de um Orc não é fácil. Somos guerreiros, selvagens nascemos para dominar os mais fracos, e respeitar os mais fortes. Desde pequenos aprendemos a lutar, pela sobrevivência, subjugando os mais fracos e reverenciando os mais fortes. Isso é ser um orc. Qualquer um que nasça pensando diferente disso, bom, não vive muito para convencer os demais. Foi isso o que aconteceu com minha “família”. Eu sou Othan Borknagar, filho de Zothar e Mizara. Nasci em um inverno rigoroso, filho de um orc que quebrou cabeças de dentes suficientes para se tornar um líder tribal. Nossa vila ficava as margens de uma lagoa. Tribo pequena, mas organizada. Não éramos coletores, nem escravagistas, nos pescávamos e caçávamos nossa própria comida. Depois de muitas batalhas, meu pai estava cansado de lutar. Fundou nossa vila em uma região remota o suficiente para nenhum ser vivente, a não ser um orc, querer se arriscar por essas bandas. Era um verão quando tivemos noticia de meu tio, Orkram.
                Meu tio era um orc muito mal, mais do que qualquer outro orc. Os únicos que ele respeitava eram sua família, e mesmo assim ele odiava a minha tribo. Éramos pacifistas demais para o gosto dele. Porém, meu tio tinha falhas, em um de seus saques ele estuprou uma humana, se afeiçoou a ela. Dessa união nasceu meu primo, um meio orc que ele chamou de Gorknagar. Meu primo era considerado fraco pela tribo do meu tio, mas sobreviveu apenas por ser filho do líder. Ele se tornou um ranger e a ultima vez que eu vi ele andava com um garoto escravo humano...
                Orkram queria que meu pai reforçasse a sua tribo, queria os guerreiros bárbaros que residiam em nossa tribo, porém meu pai não queria abrir mão de seus soldados. Um dia, Orkram surgiu na nossa vila. A conversa não foi amistosa e ouvem brigas e discussões, minha mãe entrou no meio da briga e saiu ferida, meu pai foi tentar defende-la e foi golpeado no estomago, o que eu vi depois disso nunca saiu da minha mente. Vi orcs lutando contra orcs, uns querendo dominar os outros, por fim sobraram apenas os mais fortes. Meu tio matou meu pai, surrou aqueles guerreiros que ele queria para o seu grupo e levou todo mundo para a vila principal. Lá, aprendi a dura lição de ser o que eu nascia para ter sido desde o principio, um guerreiro selvagem imundo e conquistador.        
                Os anos passam rápido para os de minha espécie, com 15 anos eu já era um adulto. Aprendi a lutar e me juntei aos soldados de meu tio, Orkram Borknagar o usurpador. Eventualmente, constitui família. Conheci Allura, uma jovem guerreira da tribo. Envolvemos-nos, tivemos dois filhos. Vivi aquela vida na vila e o único momento de tranquilidade era quando estava à noite com meus filhos e minha esposa. Ela me compreendia, eu fazia planos de um dia voltar à vila onde nasci e reconstruí-la.
Apesar da violência, da truculência, não era aquilo que eu gostava de fazer na vida. Eu não via satisfação em dominar uma vila, em saquear aldeões que o único erro na vida foi viver uma vida simples em uma região inóspita.
                Um dia nos mandaram atacar uma vila de pequeninos, devíamos pegar o máximo de suprimentos, pois um inverno rigoroso estava por vir. Chegamos à vila ao anoitecer e atacamos. Até então eu achava que era uma vila de homens, até que vi pequenas criaturas, parecidas com crianças, correndo tentando se defender. Foi um massacre, mas eu não participei. Eu estava com muita pena... Que satisfação tem em enfrentar formigas? Nada fiz e ignorei as ordens do “capitão” do grupo. Ele não gostou nada disso e veio para cima de mim, nem vi quando entrei no meu estado mais puro de raiva e acertei o meu machado na sua cabeça. Acertei-o com tanta força que meu machado ficou cravado em seu crânio, meus companheiros viram aquilo e ficaram sem entender, foi preciso dois deles para me segurar e impedir que eu continuasse destroçando aquele puto. Eu já não gostava dele, só precisava de um motivo, e ele me deu um...
                Meus companheiros me prenderam, terminaram o que começaram, mataram todos na vila, inclusive as crianças, prenderam apenas um, o mais valente dos pequeninos, que resistiu bravamente. “Vamos colocar ele na coleira, vai servir de marionete para gente, nas fossas”, eles disseram. E quanto a mim, o pior se reservava a mim.
                Chegando à vila, meu tio ficou sabendo do que eu fiz e me prendeu. Levei mais chicotadas do que podia contar. Mas o pior castigo ainda estava por vir...
                Eles me levaram para o centro da vila, disseram “Você é um orc morto. Seu sangue é impuro, você tem dó desses fracos? Desses pequenos insetos que esmagamos embaixo de nossas botas? Você é fraco, como o seu pai. Mas eu vou te fazer forte...”.  
A dor que senti, foi maior do que qualquer chicotada, flechada ou pancada que algum dia eu já havia sentido na vida, mataram meus dois filhos, minha esposa na minha frente. Allura tentou lutar, mas foi dominada pela brutalidade dos orcs que a seguravam. Ela morreu olhando para mim, para meus olhos. Depois disso apenas senti uma dor muito forte na cabeça e um escuro, vazio que me abraçou inteiramente.
                Acordo com a voz de estridente e irritante de um pequenino. Ele chama minha atenção, tenta me fazer recobrar meus sentidos. Por alguma razão que desconheço ainda estava vivo. Era o pequenino que resistiu na sua vila “Ei, se levanta dai. Nós dois vamos morrer, mas podemos morrer lá fora como dois prisioneiros, ou podemos sair daqui e lutar, e morrer com dignidade. Meu nome é Willui. Eu escutei o que fizeram lá fora. Eles vão te matar nas fossas, junto comigo. Mas a sorte sorri para gente, grandão...”.
                Eu vejo que o pequenino consegue se soltar das amarras, ele me solta, um pouco relutante, mas eu não demonstro agressividade contra ele. Não... Meus inimigos estão lá fora.
Eu saio pela barraca, vejo que a vila está sendo atacada por um grupo errante de humanos. Em meio à confusão eu vejo aquela arma que daquele dia em diante será inseparável para mim. Meu grande machado começa a abrir caminho por entre os orcs, que não sabem se se defendem dos humanos ou de mim. Mato todos aqueles que estão no meu caminho, os humanos saem em perseguição a um grupo maior, eu me prostro ante os restos de minha família. Ouço Willui me dizendo que não há tempo para despedidas, precisamos sobreviver. Eu jogos os seus restos mortais na grande fogueira, uma fogueira indigna de uma pira fúnebre...
Saio com Willui, durante aqueles próximos dias é a minha única companhia...

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